Untitled from Caixa de Pandora on Vimeo.
"Pandora's box is 35 per 23 inches, and, so far as our researches show, it's legend is a complete hoax. There is nothing in it but sand and dust." - Prof. John McCarthy, Yale University (New Haven, USA). [Adenda do Prof. McCarthy de 11-X-2010: "Nevertheless, these youngsters opened this blog, in remembrance of Pandora's Box - in a siege to conquer the world. So, be sure to comment!"]
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
domingo, 19 de dezembro de 2010
Um Conto de Natal
(RB)
Algumas pessoas, especialmente aqueles homens que têm alguma coisa contra o sentimentalismo, têm uma forte aversão ao Natal. Mas houve pelo menos um Natal na minha vida que realmente ficou vivo na minha memória. Era véspera de Natal de 1908 em Chicago. Eu vim para Chicago no início de Novembro, e quando eu perguntei pelas vida nessa cidade, fora-me dito que este seria um inverno tão rigoroso, que tornaria ainda pior as condições de vida nesta tão desagradável cidade. Quando sondei por um emprego como caldeireiro, foi-me dito, que caldeireiros não tinham nenhuma chance, e quando eu procurei um lugar para dormir minimamente habitável, tudo era muito caro para mim. E muitas pessoas, de várias profissões, vivenciaram o mesmo, nesse difícil inverno de 1908 em Chicago.
Durante todo o mês de Dezembro, o terrível vento soprava do lago Michigan e nessa altura fecharam muitas fábricas, lançando uma avalanche de desempregados para as frias ruas. Percorríamos todos os bairros, procurando desesperadamente por algum trabalho e ficávamos contentes quando à noite, juntamente com outras pessoas esgotadas, nos congregávamos num pequeno bar no bairro dos matadouros. Lá pelo menos estávamos quentes e podia-se ficar calmamente sentados. E, com sorte com um copo de uísque, que se enchia com calor, ruído e os camaradas, tudo aquilo que restava de esperança. Nesse ano e nessa véspera de natal então, estavamos sentados nesse bar que estava mais cheio que normal, e o whisky mais diluído que o costume e os fregueses ainda mais desesperados. É óbvio que nem o público nem o proprietário animavam para um clima festivo. (...)
Mas por volta das dez horas entraram três rapazes que – sabe-se lá como! - tinham alguns dólares no bolso e que convidavam para uma rodada geral, pois era apenas Natal e o sentimentalismo estava no ar. Cinco minutos depois, o lugar inteiro estava irreconhecível. (...)
Contudo, acho que devido à compulsão de presentear todos, incitou-se alguma irritação. Os doadores deste espírito de Natal não foram vistos de olhos amigáveis. Após o primeiro copo de uísque patrocinado, foi traçado um plano de verdadeira dádiva de presentes de Natal.
Uma vez que não abundavam artigos para usar como presentes, era mais lógico utilizar presentes adequados às pessoas e até com algum significado profundo, em vez de presentes de valor material.
Então, nós demos ao proprietário do bar um balde de neve suja da rua, para que o velho whisky pudesse durar – aguado e diluído – até ao ano novo. Ao empregado oferecemos uma lata velha de conserva, assim tinha pelo menos um recipiente de serviço decente. (...)
Estava entre nós um homem que se destacava entre nós pela negatividade, pois estávamos que tinha um grande ponto fraco. Todas as noites estava lá sentado e as pessoas percebiam e acreditavam com segurança que ele tinha uma forte e intransponível aversão a tudo o que tinha a ver com a polícia. Todo o mundo podia ver que ele não estva metido em bons lençois.
Para este homem, nós pensamos em algo muito especial. Rasgamos três páginas de um velho livro de endereços, onde figuravam os contactos de diversos postos da polícia, embrulhamos cuidadosamente numa folha de jornal e entregamos o pacote ao nosso homem.
Enquanto entregávamos o embrulho pairou um grande silêncio na sala. O homem hesitantemente pegou no presente e olhou para nós de soslaio com um sorriso ligeiramente amarelado. Apercebi-me como ele sentia o embrulho com os dedos, de forma a determinar o conteúdo ainda antes de o abrir. (...)
E então algo muito estranho ocorreu. O homem puxou no barbante que fechava o "presente", quando o seu olhar, aparentemente ausente, caiu sobre a folha do jornal que albergava as páginas do livro de endereços da polícia. De repente o seu olhar já não era ausente. Todo o seu corpo magro contorceu-se com o jornal, ele inclinou seu rosto para o fundo da folha, e leu. Nunca, nem antes nem depois, vi um homem ler assim. Ele simplesmente engolia o que leu. E então ele olhou para cima. E novamente eu nunca, nem antes nem depois, vi um olhar tão brilhante como o olhar deste homem.
"Acabei de ler no jornal", disse ele de pé com uma voz enferrujada dolorosamente quieta, contrastando com o ridículo do rosto radiante, "que todo o meu problema simplesmente fora resolvido há muito tempo. Toda a gente sabe, em Ohio, que eu não tenho nada a ver com o sucedido" E então ele ria-se.
Todos nós ficamos impressionados pela reacção do homem pois esperavamos outra, e quase todos perceberam que o homem tinha estado sob alguma acusação, e agora, tal como aquela folha de jornal o explicou, ele tinha sido absolvido. De repente eclodiram risos pelo bar, e esses risos partiam dos corações das pessoas, o que acabou por conceder um balanço positivo à nossa acção, esquecendo-se toda a amargura inicial, e vivemos um excelente Natal, que durou até de manhã, todos nós satisfeitos.
Nessa satisfação geral, é claro, não importou sequer que aquela folha de jornal libertadora não tivesse sido escolhida por nós, mas sim por Deus.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Diálogo 3
Profeta - Como é possível usar Papa e preservativo na mesma frase? Foda-se...
A.-P. - Não estou certo de que essa seja a linguagem mais apropriada, tendo em conta os nossos potenciais ledores...
P. - A mim ninguém me paga para ser liso.
A.-P. - Lido, queres tu dizer.
P. - Não. Liso.
A.-P. - Mas se nos dão acesso a esta tribuna, sempre podemos ser mais educados e...
P. - Estou a borrifar-me para isso!
A.-P. - Bem, ok. Mas que achas?
P. - Sobre o quê?
A.-P. - Sobre o que disse o Papa!
P. - Para mim era pegar nessa padralhada toda e...
A.-P. - 'Tou a ver que hoje não dá para falar contigo!
P. - Passa-me daí o entrecosto para pôr aqui na brasa.
A.-P. - ...
P. - Acho bem.
A.-P. - Achas bem o quê?
P. - O que disse o Papa.
A.-P. - ?
P. - Exactly, my looser friend.
A.-P. - Onde é que aprendeste inglês?
P. - States.
A.-P. - Achas bem? Ou tardio? Ou ainda pecando por defeito?
P. - Não. Ninguém pede a um carvalho para dar castanhas.
A.-P. - Não percebi.
P. - Não percebeste que és burro.
A.-P. - Pensava que, como contestatário de esquerda que és, que achavas, como muitos, que a posição do Vaticano sobre o preservativo - e tendo em conta a disseminação da Sida em África, em especial - era nada menos do que criminosa.
P. - Estou a ficar velho.
A.-P. - ...
P. - E desde que te aturo que envelheço mais.
A.-P. - Mas como assim?
P. - You're a pain in the ass.
A.-P. - Não! Como achas bem o que disse Bento XVI?
P. - A Igreja faz incidir a sua estratégia na abstinência; depois na fidelidade; e no fim no preservativo.
A.-P. - Acho que é a primeira vez que te ouço dizer estratégia sem ser a brincar.
P. - Lê o texto de novo.
A.-P. - Como?
P. - Esquece.
A.-P. - Não achas isso desfasado da realidade?
P. - Não.
A.-P. - ...
P. - Dar azo aos desejos carnais, dar azo sobretudo aos desejos, faz uma pessoa sumir-se como pó ao vento.
A.-P. - Isso é pouco revolucionário.
P. - Estás enganado my loser friend. Isso, hoje, é o que há de mais revolucionário.
FS
Um pote de Alcaçuz
Esperei que o excesso caísse, pingos espessos de alcaçuz líquido que tingiam de negro o meu colo e aguçavam os sentidos.
Ao me perder nas gotas, não senti que a terra continuava a arder. Só o poder olfactivo conseguiu raptar-me do mundo dos sonhos pois foi o cheiro do humo envolto em chamas que me agitou.
Afinal tinha estendido a mão ao pote errado e este licor era alcatrão com cheiro a raiz-doce. Alcatrão impostor que só serviu de acendalha para a combustão.
RB
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Cemitério 1
e por isso acordava e adormecia
com a imortalidade no tempo perdido
em minhas encardidas mãos
mas entrei de manso e em silêncio
na cidade dos mortos
transposta a entrada
ali tudo é circular e sem pontos de fuga
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Tertúlia com 1º Convidado: Sérgio Marques
Parte 1 Tertúlia 16/11/2010 from Caixa de Pandora on Vimeo.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Juventudes Partidárias
Muitas perguntas, muitos gatos fabulosos e acima de tudo, muita troca de perspectivas. Enjoy.
Juventudes Partidárias - Parte 1 from Caixa de Pandora on Vimeo.
Juventudes Partidárias parte 2 from Caixa de Pandora on Vimeo.
3ª e última parte!
sábado, 6 de novembro de 2010
O condutor
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
domingo, 31 de outubro de 2010
Ele e Ela perdidos algures num Nós
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Manuel Alegre na Caixa de Pandora
sábado, 23 de outubro de 2010
Nuno Melo, Entrevista
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
República vs Monarquia
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
i love the simple joys
i love the simple joys
letting my toes
soak in the grass
and plasticine mud.
picking green beans
from their mother stalks
and getting spanish needles
all over me.
breathing in the rain,
exhaling softly the pain.
releasing the thunder from my soul.
glazing over the sunday paper
sipping black coffee
as the sun warms my back
in the lazy lazy sunday hours.
summersaults in the sea,
empowering chocolate teeth,
eating artichockes with green tea.
Oh, how do i love the simple joys.
RB 02/2006, revisto hoje.
Depois da Fome, o Prémio
O Parlamento Europeu tomou a decisão que se impunha, atribuindo o Sakharov deste ano ao dissidente Cubano Guillermo Fariñas. Se juntarmos mais algumas pressão internacional, mais as recentes e anormalmente lúcidas declarações de Fidel, acrescentando a abertura da administração Obama para um aliviar do embargo em troca de uma progressiva mudança constitucional, poderemos estar à beira de encontrar a solução para a "Palestina das Caraíbas". Ou seja, um regime insuportável, que desrespeita os preceitos fundamentais da liberdade, democracia e direitos Humanos, mas cujo embargo do seu vizinho democrático serve de arma de arremesso contra este último e todos aqueles que defendem o Estado de Direito, como que legitimando as más práticas vigentes na ditadura a quem se quer enfraquecer. NO MORE EXCUSES!(para que não hajam dúvidas, o Fariñas é o tipo da direita)
TF
domingo, 17 de outubro de 2010
Entrevista: Comissária Europeia Georgieva
RB/TF
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Lágrimas
Afinal a secura era só por falta de causas comuns e por exageros de telenovelas que plastificam o sentir. Não, a humanidade está viva, e espelha-se nos mineiros que procuram a luz e aos poucos, lenta, lentamente são paridos pela segunda vez para uma brilhante nova humanidade.
Vamos em 10 novos homens, faltam os outros que continuam na sua escuridão do ventre da terra. E o que pensarão ao longo daqueles 624m de percurso de limbo entre estes mundos surreais?
Pode ser que este novo sentir de humanidade interligada seja curto, e não duvido que em breve sejamos novamente escravos de reality tv barata quando venderem os direitos desta 'história' a revistas e estúdios.
Mas neste preciso instante a acendalha da empatia e do amor circum-navega o mundo, e eu apanhei uma faísca.
RB
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Jägermeister, um experimental (mudado para português)
Não: cada um era mais possante e grisalho que o outro. A voz a plenos pulmões, cheios de ar velho e podre. Mais velho do que tu, do que eu e do que os restantes franco-atiradores. Num tempo antes do tempo - ou possivelmente antes do tempo em que eram jovens - devoraram o tédio e a fome ao ritmo de um relógio de cuco.
Tic, toc. Tic, toc. Tic, toc. Tic, toc. Tic, toc. Tic, toc. Tic, toc. Tic, toc. Toc, toc. Tic, toc.
Fossem ainda crocodilos e seriam, pelo menos, em firme chão, rápidos. Se, porém, tudo estivesse calmo por um segundo, então ouviríamos o miserável relógio de cuco. Mas, tornando-se estes caçadores tão escorregadios, tediosos e transparentes, esvaiu-se o nosso conforto.
São hoje como algas descoloradas, eximindo-se do seu papel de bóias de sinalização, num lago onde já não nada vivalma, nem se pratica nudismo de corpos rosados. Os Toten Hosen [Calças Mortas] cantavam que "Um dia todos têm que partir, mesmo se o teu coração quebrar. Mas o mundo não afunda, ó Ser Humano não te enerves!"
Será que existiram verdadeiramente estes 10 liliputianos? É difícil, tão difícil, distingui-los; talvez sejam 6 mil milhões de pequenos caçadores...
Mudado para português por RB e FS
Jägermeister, um experimental
Tic, toc. Tic, toc. Tic, toc. Tic, toc. Tic, toc. Tic, toc. Tic, toc. Tic, toc. Toc, toc. Tic, toc.
Wären sie doch noch Krokodile, dann wären sie wenigstens wendig, geschliffen und schnell. Wenn aber, für eine Sekunde, alles ruhig wäre, dann würde mann trotzdem die elende Kukuksuhr hören. Da aber die Jägermeister so lahm, öde und durchsichtig sind, haben wir gar kein Trost-faktor. Sie sind wie alte, algenreiche, Bojen die auf einem nichtssagendem See treiben, wo niemand schwimmt, geschweige denn noch FKK übt.
Die Toten Hosen singten schon "Einmal muss jeder gehn, und wenn dein Herz zerbricht. Davon wird die Welt nicht untergehen, Mensch ärger dich nicht".
Aber waren es wirklich zehn dieser "Ödemeister"? Es ist doch so schwer sie untersich zu unterscheiden; vielleicht sind es doch nur 6 milliarden kleine Jägermeister...
RB
Croniqueta 1
Afinal, as opções abriram-se, como nunca na História. E a escolha cumpre, urge e persegue-nos – em tudo. As ansiedades, patológicas ou não, que nos assolam, têm por esteio axial a angústia em arrostar uma escolha entre duas, três, muitas opções – nas relações interpessoais, nas coisas materiais.
Porque já não há costumes e já não há normas sociais. (Claro que há; não posso porém estar, em constante instância, a inserir variáveis no discurso; esquematizemos a realidade para que possamos falar dela.) As nossas opções não são as dos nossos avoengos. Dispersamo-nos hoje entre amigos, virtuais sobretudo, e reais; entre sentimentos e paixões e amores; entre escolhas de opções profissionais e educacionais; entre múltiplas formas de ocupar o tempo em que estamos mortos – e muitos vêem-se deambular, como eu, entre sites, blogues, vídeos do youtube, e por aí adiante.
O mundo abriu-se e nós devolvemos medo, dormência, tédio, insónia, adiamento, dispersão. Na senda pois de mantermos opções em aberto, nada escolhemos e tudo coleccionamos – experiências; avanços; retrocessos; impasses; limites; ideologias; palavras – como troféus enrodilhados num fio de memória que apresentaremos, orgulhosos, aos nossos semelhantes. E assim fazemos para calar o silêncio incómodo que não suportamos e para escapar do verdadeiro afinco em tomar um trilho decidido – onde não cheguem os estilhaços de surdas explosões de som, de informação e de imagem ou, chegando, não nos façam divergir.
De modo que nada nos define. Não somos crentes nem descrentes. Não somos simples nem complexos. Não sabemos algo nem o seu contrário. Não fazemos isto sem fazer aqueloutro.
Arcamos com uma opressão que muitos não sentem; além disso, sobre nós paira a impostura de sermos o tempo da transição – ou de inaugurarmos o tempo da constante transição – e, sobretudo, de termos de explicá-lo (a este tempo) aos vindouros; de o explicar e de justificar as nossas irresoluções. Quem compreende? Quem compreenderá?
FS
domingo, 10 de outubro de 2010
Poema Político 1
exige 3 redes
sob a vertigem
o libertário
garante a tensão
da corda-bamba
o primeiro é herói
ao cair
o segundo é besta
ao ficar
DV, alias FS
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Strings
«I guess it's OK to pull somebody's strings once in a while; good things will happen».
Profeta
(na sua fase operária e americana)
Ursinhos e a República
RB
terça-feira, 5 de outubro de 2010
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Paliativo (2)
FS
Paliativo
VS
Congo, o preço da nossa passividade
Costuma-se dizer que a falta de intervenção militar externa se deve ao país alvo não deter riquezas estratégicas. A esperteza saloia costuma afirmar "Ah, mas se eles tivessem gás natural, a história era outra". Mas no caso do Congo, é precisamente o contrário. Parece que o território mais fértil do mundo e o solo mais rico está condenado a um feitiço macabro que perdura há séculos: primeiro com as atrocidades bárbaras cometidas pelo rei belga Leopoldo que criou o seu "Estado Livre do Congo", depois através do colonialismo belga, seguiu-se a crise desencadeada pelos movimentos nacionalistas e as suas guerrilhas internas, a ditadura de Mobutu, a 1ª e a 2ª Guerra do Congo, cujos confrontos ainda não terminaram. Contabilizam-se já 6 milhões de mortos, o que torna este conflito o mais sangrento desde a 2ª Guerra Mundial.
O Congo é o único país onde se assiste diariamente a um retrocesso em termos de conquistas humanas: seja nos direitos humanos seja nas condições materiais e de infra-estruturas. É o único país onde os avós podem dizer aos seus netos, que o Congo da sua juventude era mais desenvolvido que o actual. É um rewind assustador. Este site dos MSF pretende dar voz às pessoas do Leste do Congo, que assim deixam o seu testemunho sobre a guerra, a sobrevivência e o desejo de paz nesta região tão devastada pela violência, onde direitos humanos são um luxo do passado.
Quero apontar para algo que torna a violência do Congo tão sui generis: a utilização da violência sexual contra mulheres como arma de guerra e terror. Hillary Clinton apontou os holofotes mediáticos para esta chaga em 2009 quando visitou o Congo, e este ano Margot Wallström tomou posse enquanto representante especial da ONU para a violência sexual nos conflitos, mas uma reportagem do NY Times de hoje demonstra que ainda falta muito para chegarmos sequer perto de uma resolução.
A título de exemplo, na província do Kivu Sul, uma mulher é violada cada duas horas e as idades das vítimas variam entre os 2 e os 80. O Hospital Panzi em Bukavu presta um serviço essencial a vitimas de violações, fazendo 3600 operações gratuitas para reparar fístulas, que é uma condição causada por violações tão horríficas que as mulheres deixam de ter controlo da urina e das fezes. Mas o ginecologista chefe do serviço chega a desesperar porque o número de mulheres que regressam ao seu consultório é cada vez maior. Mas ele não desiste. Isso é o que o mundo faz.
Desliga-se a empatia com as vítimas destas barbaridades - mas porquê? Afasta-se o olhar do mundo porque é a vandalização de vaginas e porque é em África. É esta a triste e avalassadora realidade da matéria.
Qual é o meu desejo? Que a globalização não sirva só para termos um McDonalds em cada cidade do planeta, mas que antes sirva para positivamente acordar e abanar uma verdadeira consciencialização mundial sobre a dignidade humana que deve ser respeitada em todos os cantos do mundo.
RB
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Depois do terror: por que sobrevive o comunismo em Democracia? (2)
A persistência do comunismo em contextos democráticos poderá derivar do “universalismo” filosófico que subjaz ao movimento político, forjado por Marx e Engels, com antecedentes literários na Utopia, de Thomas More. Na verdade, entre muitas similitudes, há uma clivagem de índole filosófica que separa o comunismo do nazismo. Essa clivagem só poderia ser mitigada, ou abolida, se consideramos “Mein Kampf” uma obra filosófica, o que não me parece verosímil… Se a orfandade de “universalismo”, que “vitima” o nazismo, pode explicar a sua irreversível estigmatização, a naturalidade com que o comunismo se adaptou à democracia, depois das hecatombes soviética e sínica, poderá ser justificada por esse substrato filosófico intemporal. Como enfatiza Anne Appleubam, no seu galardoado Gulag, uma História, o comunismo, de raiz sociológico/filosófica, continua a ser escudado por quem reitera a avaliação de que a URSS simboliza “o bem deformado”. Ken Livingstone, ex-deputado da Câmara dos Comuns e presidente da Câmara de Londres, foi um dos arautos dessa distinção. Conquanto possamos destrinçar na raiz filosófica do comunismo um projecto para a Humanidade munido de algum altruísmo e filantropia, o seu determinismo histórico profetiza o confronto e a abrupta eliminação de classes. Entre o universalismo comunista e o pragmatismo nazi, a eliminação, velada ou límpida, é um elemento distintivo. Mesmo recordando esta pulsão convulsiva, inextrincável do marxismo histórico, não acredito que Marx avalizasse o regime que Estaline edificou, pelo que não cuspo n' O Capital como cuspo no Mein Kampf. Mas cuspo, sem titubear, em Hitler e em Estaline.
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Depois do terror: por que sobrevive o comunismo em Democracia? (1)
Há alguns dias, cruzei-me com uma caracterização inverosímil do fascismo português. Alguém rotulava de “light” o Estado Novo, regime assente numa das ramificações do totalitarismo genealógico do século XX. A avaliação decorria de uma análise quantitativa das perdas humanas originadas pela acção repressiva do Estado Novo, em comparação com os fascismos alheios, de matizes espanhol e italiano, e com o “mal absoluto” nazi. Apesar de, no plano quantitativo, se exibir Hitler como o grande carniceiro da “direita totalitária”, Estaline tem razão quando definiu uma morte como uma “tragédia”. Mas quando infligida pelas mordaças asfixiantes de um Estado, a tragédia reveste-se de torpeza irremissível, pelo que a aparente filantropia de Estaline sucumbe à sua eterna condição de assassino ávido. A banalização do mal converte, efectivamente, a “tragédia” em estatística, solidificando os alvores do século XXI esta relação. No Congo ou no Darfur, no Ruanda ou na Libéria, a adição de 10 mil mortes a uma contabilidade macabra não provoca um inelutável acréscimo de dor no observador longínquo. O Homem urbano do século XXI acomodou-se aos relatos de chacinas, difundidos pelos jornais nos interstícios das páginas “internacionais”.
Só uma degeneração da essência humana permite que a asserção de Estaline exiba pertinência. Todavia, no intuito de aplacar a gangrena, torna-se imperioso repudiar qualquer Estado responsável por mortes, derivadas de actividades persecutórias ilegítimas. Não há, por isso, “fascismos light”, mesmo que o Estado Novo estivesse vinculado, “somente”, a uma morte.
A recente notoriedade que a extrema-direita, em Portugal, conquistou coage o Homem com memória a recordar os seus antecessores ideológicos. Entre os totalitarismos de direita, o nazismo foi o seu derivado mais fugaz e letal, definido como o “mal absoluto” pelas precursoras abordagens da vida e da morte. Apesar de o comunismo soviético ter aniquilado mais vidas – em mais de 70 anos de vida –, a industrialização da morte confere ao nazismo uma particularidade que o comunismo nunca tentou decalcar. Na União Soviética, durante os ominosos anos da Grande Fome, milhões sucumbiram à inanição, desenlace cujas responsabilidades devem ser atribuídas a um conluio entre a malignidade humana e a voracidade do tempo. Na Alemanha nazi, pelo contrário, a actividade humana foi a única responsável pelo extermínio. Tzvetan Todorov, em Memória do Mal, Tentação do Bem, escreve: “Se é certo que as classes inimigas devem ser eliminadas, essa tarefa caberá essencialmente à história e à natureza (a tundra gelada da Sibéria). Os nazis põem em prática o mesmo desprezo pela vida nos campos de concentração ou na exploração dos trabalhos forçados; porém, nos campos de extermínio, a morte transforma-se num fim em si mesmo. Nesta perspectiva, cada um dos dois regimes conserva a sua especificidade, apesar da semelhança dos seus programas”.
Portugal, ein Schrecken ohne Ende
De facto não podemos ficar pelos cortes e pelas costuras orçamentais; temos que ir além. Além da subida de IVA. Além dos cortes no abono familiar. Além das subidas nas contribuições à ADSE e CGA. Porque estas medidas só têm por objectivo sobreviver o dia de amanhã em termos da maquinaria estatal. Mas nós temos que projectar-nos no futuro e a longo-prazo, estratégia para o qual é inevitável o efeito 'tabula rasa' no sistema sócio-económico-político português.
Em alemão existe uma expressão que sigo à letra: lieber ein Ende mit Schrecken, als ein Schrecken ohne Ende (trad: é melhor um fim terrível do que um terror sem fim). Temos que acabar com todas as benesses que a função pública tem acumulado ao longo das décadas que mais não fazem que cimentar estruturas imóveis, pesadas e lentas. É preciso morder o cabedal, olhar em frente e seguir com um modelo de reestruturação da coisa pública.
Falo de subsídios, por exemplo, que, pela sua natureza não são tributáveis. Qual é a lógica de pagar subsídios de imagem a assessores e afins? E os subsídios de representação quando o funcionário não se ausenta do serviço?
Mas não é só nos funcionários públicos que temos que analisar a fundo os gastos. Só se pode pedir a um povo que arregace as mangas e aperte os cordões da bolsa se os exemplos de cima são espelhados nessas medidas de austeridade. Certamente que casos como a sra deputada Inês de Medeiros nada fazem para credibilizar a gestão de fundos públicos nas nossas instituições.
Temos que ter políticos com a coragem da candidata dos Verdes nas Presidenciais Brasileiras, Marina Silva, por exemplo, que quando foi eleita vereadora de Rio Branco devolveu o dinheiro de gratificações, auxílio-moradia e outras mordomias que os demais vereadores recebiam sem questionamento.
Temos que enfrentar esta crise como a oportunidade para finalmente criar um sistema político e estatal do qual os portugueses se podem orgulhar. Quando exclamaremos "Portugal est mort. Vive le Portugal!"?
RB
Na razão está a solução?
O 1º Ministro anunciou hoje a um abatido Portugal medidas de austeriade(grande ou pequena depende do analista, e do modelo de sociedade e de economia que preconiza)que prometem mudar a vida dos portugueses nos próximos...anos.Umas das raízes do problema tem certamente a ver com o início da crise internacional. Mas não pelas razões que «Sócrates e sus muchachos» advogam. O Governo, a reboque de alguns Nóbel de sala de aula(hello economia real!!!), e de uma opinião pública e publicada inculta e papagaia, chegou à brilhante conclusão que a solução para a recuperação da crise (ainda que a nossa fosse, na altura, distinta da Internacional) seria «injectar dinheiro na economia». Era Keynes que ressuscitava! Pois bem, o défice das contas públicas mais que quadruplicou ajudado, sejamos justos, por uma diminuição das exportações e do turismo (agravando o défice da balança comercial) decorrente da própria crise, e por razões essencialmente exógenas. Ninguém fala dessa "injecção" de dinheiro, para onde foi, para que serviu, o que salvou, e de que forma passou de conjuntural para estrutural. è que tenho dificuldade de acreditar no sobrenatural, principalmente no que se refere a humanidades como a economia. Ainda não vi ninguém falar, debater, escalpelizar este ponto. Pode ser um bom princípio...
TF
Nota: O FMI não vêm aí..já cá está. Chama-se "Conselho Europeu" (e também "EcoFin"). Sempre que se aproxima um... lá vem bomba!
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Venus ...Ontem, Hoje e Sempre?
TF
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Mulheres, Armas e Heranças
Ora bem, perguntar-me-ão para que serve esta metáfora?
O Dia de Defesa Nacional arrancou ontem pelo país fora, com o intuito de aproximar as Forças Armadas dos jovens, com a particularidade de ser o primeiro ano em que passa a ser obrigatório também a presença das raparigas. É uma grande operação charme para melhorar as taxas de ingresso nas Forças Armadas: a predisposição de ingressar nas FA caiu de 52,8% (2007) para 38,9% (2009), de acordo com um estudo de Luís Baptista da Universidade Nova de Lisboa. Procurando a integração das mulheres nas FA, Portugal consegue hoje em dia ostentar o 4º lugar no ranking da NATO de maior participação de mulheres nas FA.
Tudo isto é motivo de celebração, na minha opinião. Um dos bastiões das masculinidade - a defesa - está aos poucos a se abrir às mulheres, para assim as FAs desempenharem um papel pro-activo na defesa da igualdade do género. E 'ponto final'.
Contudo, como a defesa de certos feminismos infelizmente se encontra sequestrada por uma esquerda esquizofrénica, qual é a reacção da UMAR, "União de Mulheres Alternativa e Resposta"? A UMAR discorda da necessidade de "haver um dia de defesa nacional com obrigatoriedade, coimas altíssimas e interdição de candidatura à função pública" em caso de não comparência. "É algo que não faz sentido quando a República não está em perigo, devia ser substituído por um dia com outros valores que não os belicistas", acrescentou a dirigente Manuela Gois.
É no mínimo ridículo, e no máximo pode ser contraproducente. Em vez de utilizar o legado do feminismo de maneira positiva, para criar equilíbrio entre os géneros, procura impor dogmaticamente a sua lógica esquerdista, e pior - ousando falar em nome de todas as mulheres portuguesas. É neste sentido que temos que olhar para heranças com responsabilidade e com credibilidade para que qualquer projecto possa ter futuro.
Questionar a legitimidade das FAs no actual cenário mundial ditado pela incerteza é altamente perigoso e só demonstra a agenda política que se esconde por detrás desta ONG, olhando só a conquistas e negligenciando os necessários deveres que acompanham todos os direitos.
Não me deixo representar assim enquanto mulher e até tenho pena de hoje não ter 18 anos para assim poder participar nas actividades do Dia de Defesa Nacional.
RB
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Economia, Neoliberalismo e Cartas Abertas
Eu proponho o seguinte: que se obrigue – aliás, Jorge Bateira entende que só “resta apelar para a entidade reguladora da comunicação social” se Mário Crespo “não qu[iz]er fazer um programa em que o pluralismo de análise económica e de políticas seja real” – o jornalista da SIC a incluir: um economista neoliberal; um dito estatista; um dito marxista; um dito defensor da economia clássica; um dito libertário; um dito anarquista; um dito fascista; um dito jardineiro nas horas vagas; um dito leitor de banda-desenhada da Marvel; etc. Afinal, que mundivisões fulcrais para a nossa percepção dos dias que passam não terão tais supostos especialistas nas vertentes dessa “ciência”? E, pugnando nesse sentido, digo com Jorge Bateira: basta!
Bem, devo afirmar que sei pouco acerca desse conceito que muito anda nas penas e nas bocas dos homens pensantes da actualidade. Julgo, porém, que o mesmo assume uma conotação assaz pejorativa – muito mais uma arma de arremesso ou insulto ou, ainda, de amplificador de indignação contra a “exploração do homem pelo homem”.
A questão é a da liberdade de uma estação televisiva, privada, expressa num programa dinamizado por um jornalista que tem as suas simpatias e ideologias consabidas – e que entende dar-lhe a forma que bem entende. Expressões como: “pura propaganda ideológica” e “manipula[ção] da opinião pública usando um bem público” deixam-me atónito. Se assim é, todos os comentadores e “opinion makers”, mais ou menos estatistas ou mais ou menos liberais, pelo simples facto de emitirem as suas opiniões, em meios de comunicação social, são propagandistas e manipuladores. E há-os, de várias cores e em várias tribunas.
Resta escolher.
FS
sábado, 18 de setembro de 2010
3 Verdades com 5 anos(ou Vidência pt. I).
País a Azul e Vermelho
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Porque os cemitérios são depositários de histórias e sonhos
"Cemetery Ride", Billy Collins
"My new copper-colored bicycle
is looking pretty fine under a blue sky
as I pedal along a sandy path
in the Palm Cemetery here in Florida,
wheeling past the headstones of the Lyons,
the Campbells, the Vesers, and the Davenports,
Arthur and Ethel, who outlived him by eleven years
I slow down even more to notice,
but not so much as to fall sideways on the ground.
And here's a guy named Happy Grant
next to his wife Jean in their endless bed.
Annie Sue Simms is right there and sounds
a lot more fun than Theodosia S. Hawley.
And good afternoon, Emily Polasek,
and to you too, George and Jane Cooper,
facing each other in profile, two sides of a coin.
I wish I could take you all for a ride
in my wire basket on this glorious April day,
not a thing as simple as your name, Bill Smith,
even trickier than Clarence Augustus Coddington.
Then how about just you, Bernice Owens?
Would you gather up your volumious skirts
then ride sidesaddle on the crossbar
and tell me what happened between 1863 and 1931?
I'll even let you ring the silver bell.
But if you're not ready, I can always ask
Amanda Collier to rise from her long sleep
beneath the swaying gray beards of Spanhish moss
and ride with me along these sandy paths
so I can listen to her strange laughter
as some crows flap in the blue overhead
and the spokes of my wheels catch the dazzling sun. "
partilhado por RB
terça-feira, 14 de setembro de 2010
Diálogo 2
Profeta - Sim, mas despacha-te.
A.-P. - "Ele, Agilulfo, tinha sempre necessidade de sentir perante si as coisas como um espesso muro, ao qual contrapunha a força da sua vontade. Só assim conseguia manter uma segura consciência de si mesmo."*
P. - Bem-vindo.
A.-P. - Bem-vindo?
P. - Bem-vindo aos tempos modernos.
A.-P. - A obra foi publicada, inicialmente, em 1959. E não me parece que era isso que Italo Calvino tinha em mente.
P. - Substitui "segura consciência" por "segurança consciente".
A.-P. - Hoje estás fluente...
P. - Mais uma dessas e dou-te uma cabeçada.
* Italo Calvino - O Cavaleiro Inexistente
FS
Diálogo 1
Anti-Profeta - Parece-me que há um desnorte geral.
P. - Quê?
A-P. - Desnorte!
P. - De quê?
A-P. - Por parte das pessoas.
P. - Que tem isso a ver com o Red Label?
A-P. - Apenas a desfiar conversa...
P. - E porquê?
A.-P. - Porquê o quê?
P. - Porque achas que há desnorte?
A.-P. Porque as latitudes e as latitudes já não respondem às bússolas.
P. - Não percebi.
A.-P. - Deixa lá.
p. - Hmm.
A.-P. - O que será que substitui os valores, hábitos e convenções que sofrem hoje erosão?
P. - Os valores não sofrem erosão nenhuma.
A.-P. - Não?
P. - Isso é conversa fiada...
A.-P. - Eu disse que estava a desfiar conversa...
P. - Tretas.
A.-P. - Acho que tens razão. Morreram costumes, isso sim - um corpo normativo, consentido e defendido, de direito consuetudinário.
P. - Isso mais depressa.
A.-P. - E as pessoas, sem rede por debaixo da corda bamba, têm de refugiar-se noutras normas, noutros códigos. Coisas dos tempos nossos, velozes e transitórios.
P. - Nunca te disseram que usas demasiado as palavras norma e normativos, etc. e tal?
A.-P. - É capaz.
P. - E porque achas isso importante?
A.-P. - Porque, sem práticas forjadas na têmpera dos tempos, hoje anseia-se por regulamentar tudo e proibir muita coisa.
P. - Passa-me daí uma linguiça para pôr aqui na grelha.
A.-P. - Não concordas?
P. - Hmm... Ainda há coisas do passado que guiam a gente.
A.-P. - Mas é tudo remetido para um baú de velharias.
P. - Referes-te a quê, concretamente?
A.-P. - Arranjas-me um cigarro?
P. - Outra vez?
A.-P. - Refiro-me à mentalidade higienista e dietética, ao ambientalismo militante e autista, ao pacifismo de sofá, à repressão do vício e da liberdade de, se quisermos, sermos decadentes.
P. - É capaz de ser, é.
A.-P. - Olha, a penalização das drogas, por exemplo.
P. - Sim.
A.-P. - Muita gente não imagina que, em termos históricos...
P. - Vamos falar de história outra vez?
A.-P. - Não.
P. - Ok.
A.-P. - A penalização é coisa recente. O poeta consumia ópio para aguentar a vida.
P. - Quem?
A.-P. - "Olá, guardador de rebanhos, / Aí à beira da estrada".
P. - Rebanhos?
A.-P. - Fernando Pessoa!*
P. - Outro louco.
A.-P. - Outros loucos, queres tu dizer.
P. - Liberdade a mais mata.
A.-P. - É possível, mas isso não é razão suficiente para coarctá-la.
P. - P'ra quê?
A.-P. - Esquece.
* Isto é, Alberto Caeiro.
FS
A "guerra dos sexos"
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Radio Directo Europa 21/08
A Caixa de Pandora foi ao Directo Europa, Radio Jornal da Madeira, no passado dia 21/08 debater portugalidade... No final ainda ficamos com dúvidas sobre o que é efectivamente a portugalidade, mas a conversa foi animada!
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Piromania de Ideias
Num anterior post, referi a minha preocupação face a uma vaga de manifestações de intolerância na Europa, e a impunidade pela qual passam na opinião pública. Era referente à situação da comunidade Roma e a sua expulsão do território francês.
Hoje trago-vos mais um exemplo chocante, desta vez da Alemanha. Trata-se das mais recentes afirmações xenófobas de Thilo Sarrazin, membro do conselho executivo do Bundesbank, membro da SPD, ex-Senador de Berlim (pasta das Finanças), e frequente agitador popular sobre temáticas quentes como a imigração e Harz IV (o equivalente ao RSI).
Lançou na passada 2ªf o seu livro, "Deutschland schafft sich ab" ("A Alemanha em Queda"), onde desenvolve uma panóplia ofensiva de argumentos controversos. Entre afirmações de que os "judeus têm um gene especial" e "os imigrantes estão a estupidificar a Alemanha", Sarrazin chamou a atenção dos media para um aumento do medo de uma hipotética "islamização da Europa". Neste livro Sarrazin não quer que os seus "filhos e netos cresçam num país onde são a minoria". Onde será que já ouvimos estes argumentos de limpeza genética, caracterização monolítica de povos, e apresentação em bandejas prateadas de bodes expiatórios?? Pergunta retórica, nem preciso de responder meus amigos.
Pessoas deste género padecem de uma doença parecida à piromania, sentindo particular excitação em ver o efeito incendiário das suas palavras nas massas. Partidos da extrema direita na Europa já louvam Sarrazin, entoando que o que a Europa precisa é de "Sarrazin e não mujahedin". É preciso alertar para que a nossa geração não seja testemunha activa da nova "jewish question", agora transformada em "muslim question".
Pelo menos desta vez o conselho executivo do Bundesbank através de Axel Weber teve uma atitude coerente e exonerou ontem Thilo Sarrazin deste órgão do banco. Resta agora esperar pelo confirmação desta decisão por parte do Presidente Alemão, Christian Wulff, mas a pressão de Angela Merkel, de todos os partidos políticos, quadrantes sociais, e ultraje internacional, certamente irão conduzir Wulff à exoneração definitiva de Sarrazin.
Curioso é a semelhança etimológica do seu sobrenome com os "Sarracenos": ele assina com o antigo nome dos mesmos que tanto abomina. Mas o que é mesmo curioso é que o próprio Thilo Sarrazin é descendente de Huguenotes, o grupo de protestantes franceses perseguidos no séc XVI e acolhidos pela Prússia, entre outros territórios protestantes.
De facto a memória humana é bem curta e lamento que assim a própria memória genética não consiga contribuir para uma sociedade mais plural.
RB
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Psicologia e Catástrofes Naturais
Quando quase 1400 pessoas imediatamente faleceram com a força da Natureza das cheias;
Quando 3,5 milhões de crianças se encontram em risco de contrair doenças mortais propagadas por águas insalubres;
... será que se justifica manter preconceitos e restringir as doações financeiras à situação de calamidade no Paquistão?
A verdade é que o ritmo de ajuda humanitária a chegar ao Paquistão é não só muito mais lento como menor em quantidade do que, por exemplo, a vaga de apoio em resposta ao sismo no Haïti. Será admissível que em questões de catástrofes humanitárias as considerações políticas e religiosas figurem mais alto que a compaixão pelos nossos irmãos e irmãs que sofrem com as cheias mais graves do século?
Pergunto-me também o que é que facilitou enviar o nosso contributo para o Haïti – o que é que o Haïti tem e o que que falta em termos de “kudos” de empatia aos Paquistaneses. Mas é preciso dar a volta à questão: o que é que existe na imagem do Paquistão que dificulta a compaixão do exterior? Alguns pontos prendem-se com o terrorismo, talibãs (o vale Swat e a impunidade fundamentalista é conhecida pela opinião pública internacional), corrupção e o programa de misseis nucleares. O cidadão ocidental não acredita que os seus euros e dolares chegarão ao destino e considera que um Estado que investe fortemente na sua capacidade nuclear deveria redireccionar esse financiamento para ajudar as vítimas das cheias.
Mas acho que ainda há um outro factor: a progressiva perda de sensibilidade para o sofrimento alheio e o sentimento de que os parcos euros que mandamos em ‘cheque branco’ não ajuda em nada as verdadeiras vítimas de catástrofes naturais.
Quando vemos o desastre organizacional no Haïti e a incapacidade desse governo em recontruir o seu país é mais do que natural se questionar da validade do destino do nosso apoio. É esta a problemática da transferência de apoio humanitário para localizações pouco democráticas ou em estados fragmentados e fragilizados. Em democracia estamos habituados a que o ‘fio vermelho’ de todas as nossas acções e transferências se encontre contabilizado; é a legitimidade das instituições em causa. O ponto até que esta legitimidade é exportável para regimes pouco democráticos é altamente questionável.
Entretanto, como é que a nossa consciência humanitária pode dormir descansada enquanto a fúria das águas destrói o Paquistão? E há um perigo pior que as cheias. Tal como as doenças proliferam em ambientes de cheias e nos campos dos desalojados, o Paquistão encontra-se a cada dia que passa em perigo crescente de cair definitivamente para o fundamentalismo, com a bênção da apatia ocidental, pois os apoios dos fundamentalistas islâmicos não têm abrandado.
Deixo aqui o site da Cruz/Crescente Vermelha/o onde poderá dar o seu contributo para as vítimas das cheias no Paquistão.
RB
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Lula, o da Silva, Esquerda, Direita... roubar!
A propósito deste vídeo, o qual classifiquei de degradante no Facebook, recebi um "ataque" de um grande amigo e primo, que me acusou de ser incapaz de reconhecer que «um "ex-operário com ideias de esquerda" pudesse operar uma revolução nas condições de vida de boa parte dos brasileiros», citando o The Economist. Além disso o meu primo alega que no vídeo apenas se constata que Lula é um político, mas que ao contrário dos outros não rouba. Respondi desta forma:
TF
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Agarrem-me!!!!
Numa altura em que, quatro anos de doença e uma abdicação do cargo de Presidente depois, Fidel regressa com nova postura de estadista ( a propósito, em que qualidade discursou esta semana na Assembleia Nacional?), a sua caricatura acrescenta mais uns rabiscos ao já de si pobre desenho: Colômbia e Venezuela reataram relações depois do encontro presidencial com o recém empossado Juan Manuel Calderón. Cai assim por terra o corte diplomático e ameaça de Guerra declarado há coisa de um mês por Chavez (para os mais distraídos é dele que falo) com Maradona ao lado (já imaginaram Bush declarar guerra ao Iraque com Pelé a ladeá-lo?), acusando o cessante Álvaro Uribe das mais viltres manigâncias. De facto, ameaçar um País com um conflito sangrento, ainda mais o seu mais importante vizinho(mais que o Brasil) de quem se depende há décadas culturalmente e , em parte, economicamente semanas antes do seu Chefe de Estado e de Governo deixar o cargo, deixa a ideia daqueles corajosos que ao verem um inimigo dizer adeus num navio que se afasta do cais gritam «agarrem-me senão bato-lhe...Agarrem-me!».
É por outro lado um acordo demasiado rápido, porque conseguido com um ex-membro do Executivo de Uribe, ainda mais tendo ocupado a pasta da Defesa Nacional, sendo improvável uma mudança substancial no que diz respeito às exigências da parte Colombiana para que Caracas deixe de ser complacente (sendo simpático) para com as FARC, ELN e outros movimentos que utilizem a ideologia como pretexto para traficar.
Fidel não disse, mas poderia ter dito:« Todo el Hombre tiene su Sierra Maestra». A de Chavez é, infelizmente, bem baixinha.
TF
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Ginseng e Libido
Hoje temos mais um caso desses.
De acordo com o FT, Pyongyang comprometeu-se a liquidar parte da sua dívida para com a República Checa através de um grande lote de ginseng em vez de dinheiro (sim, leram bem), pois os excessos totalitários da DPRK levaram o regime à quase bancarrota.
Oficiais checos confirmaram que Pyongyang se tinha oferecido para resolver 5% da sua dívida acumulada de Kc186m (10 milhões US$) em ginseng, uma raiz revigorante utilizada em suplementos dietéticos e chás que supostamente melhora a memória, o vigor e a libido. Recordemo-nos que a antiga Checoslováquia era um dos principais fornecedores de máquinas pesadas, camiões e obrigações da Coreia do Norte. No entanto, os checos entretanto convertidos ao capitalismo, não estão convencidos de que precisam de tamanha injecção de "robustez" gingseniana. "Estamos a tentar convencê-los a nos enviar uma transferência de zinco, que é extraído lá", disse Tomas Zidek, vice-ministro das Finanças da República Checa.
Este tipo de transacção não seria inédito entre países socialistas - Hugo Chavez dá um desconto a Cuba no petróleo, por enviar médicos cubanos para trabalhar nas zonas mais carenciadas da Venezuela. Se a moda pegar, será que ainda vamos assistir à chegada de um navio-cargueiro cheio de pau-de-cabinda de Angola para Portugal?
RB
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Why is Mr President so sad?
Em seguimento ao post do Filipe, tinha que partilhar esta imagem deprimente de Barack Obama a festejar os seus anos na semana passada. Como diz no Frisky, alguém que lhe cante "Happy birthday Mr President"!
RB