segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Economia, Neoliberalismo e Cartas Abertas

Esta carta aberta a Mario Crespo, a propósito do programa "Plano Inclinado", é curiosíssima. O autor, Jorge Bateira, economista, insurge-se contra o facto de o referido programa alegadamente “ofende[r] o direito dos cidadãos portugueses a uma informação plural e rigorosa”. E porquê? Porque os comentadores que botam faladura no programa “representam apenas um segmento de opinião”. E, supremo topete, que segmento é? É o funesto espírito que anima os demónios da contemporaneidade: o neoliberalismo ou a “pura ideologia neoliberal” (recomendo rasgar as vestes quando se ler ou entoar tal expressão; eu tentei e senti-me bem).
Eu proponho o seguinte: que se obrigue – aliás, Jorge Bateira entende que só “resta apelar para a entidade reguladora da comunicação social” se Mário Crespo “não qu[iz]er fazer um programa em que o pluralismo de análise económica e de políticas seja real” – o jornalista da SIC a incluir: um economista neoliberal; um dito estatista; um dito marxista; um dito defensor da economia clássica; um dito libertário; um dito anarquista; um dito fascista; um dito jardineiro nas horas vagas; um dito leitor de banda-desenhada da Marvel; etc. Afinal, que mundivisões fulcrais para a nossa percepção dos dias que passam não terão tais supostos especialistas nas vertentes dessa “ciência”? E, pugnando nesse sentido, digo com Jorge Bateira: basta!
Bem, devo afirmar que sei pouco acerca desse conceito que muito anda nas penas e nas bocas dos homens pensantes da actualidade. Julgo, porém, que o mesmo assume uma conotação assaz pejorativa – muito mais uma arma de arremesso ou insulto ou, ainda, de amplificador de indignação contra a “exploração do homem pelo homem”.
A questão é a da liberdade de uma estação televisiva, privada, expressa num programa dinamizado por um jornalista que tem as suas simpatias e ideologias consabidas – e que entende dar-lhe a forma que bem entende. Expressões como: “pura propaganda ideológica” e “manipula[ção] da opinião pública usando um bem público” deixam-me atónito. Se assim é, todos os comentadores e “opinion makers”, mais ou menos estatistas ou mais ou menos liberais, pelo simples facto de emitirem as suas opiniões, em meios de comunicação social, são propagandistas e manipuladores. E há-os, de várias cores e em várias tribunas.
Resta escolher.

FS

1 comentário:

  1. É um erro infelizmente recorrente. Aqueles que, com medo de uma determindada forma de ver o mundo, e não podendo aniquilá-la, exigem estar ao lado a contradize-la, bem ao jeito dos "velhos dos Marretas". Faz-me lembrar o célebre »direito ao contraditório» que exigia o impagável Rui Gomes da Silva relativamente a Marcelo rebelo de Sousa na TVI. Conhecendo o contexto e a qualidade (distinta entre si) das pessoas em equação fica tudo dito.

    Tiago Freitas

    ResponderEliminar