segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Lula, o da Silva, Esquerda, Direita... roubar!



A propósito deste vídeo, o qual classifiquei de degradante no Facebook, recebi um "ataque" de um grande amigo e primo, que me acusou de ser incapaz de reconhecer que «um "ex-operário com ideias de esquerda" pudesse operar uma revolução nas condições de vida de boa parte dos brasileiros», citando o The Economist. Além disso o meu primo alega que no vídeo apenas se constata que Lula é um político, mas que ao contrário dos outros não rouba. Respondi desta forma:

Mas que grande confusão vai na tua cabeça. Em 1º lugar não me custa nada que a política de esquerda, ou que a de direita, resulte. É de resto com grande satisfação que o constato quando tal acontece. Como vejo o espectro e nomenclatura pol...ítico-ideológica de uma forma distinta do vulgar «o meu clube é melhor que o teu» é sempre com agrado que registo quando as populações, os cidadãos, ou na sua concretização enquanto espaço de identificação comum, o Estado, seja ele qual for, consegue tirar dividendos de um qualquer projecto económico-social, utilizando como instrumento para tal uma determinada matriz política. Posto isto verifico alguma surpresa da tua parte por uma (alegada) metodologia de "esquerda" resultar. Não te sabia tão céptico. Na verdade as correntes ideológicas e filosóficas de esquerda foram, e são, fundamentais não só no necessário equilibrio da balança politica, partidária e institucional, como consagram importantes avanços nos direitos dos camponeses (1ª), mulheres (2ª), operários (3ª) e crianças (4ª) ou mesmo na autodeterminação dos povos. E naturalmente que não estou a falar das conquistas da segunda metade do séc. XX, mas sim dos avanços que a Inglaterra inspirou desde o séc. XVI até ao final do séc. XIX, como o Settlement Act, o Korn Laws e outra emendas constitucionais. Falar da Social-Democracia Alemã da 1ª metade do séc. XIX seria fastidioso, mas certamente concordarás que resultou num manual de pensamento e prática de maior abrangência democrática, proporcionando direitos às classes menos favorecidas, e culminando (por lógica evolutiva) num aumento da saúde económico-social dos países do centro da Europa. E como vês estou a evitar os clássicos Hegel, Rosseau, Marx ou Sartre, a quem dispenso citar o contributo na evolução ideológica (deveria dizer psicológica? mental? civilizacional?) do indivíduo e da sociedade. Voltando ao vídeo, e admitindo que o Lula tem essas virtudes todas que apontas (já lá vamos): isso invalida que seja degradante? e acrescento mais: demagógico! e ainda: desviante! Então um puto da favela gosta de jogar ténis e dois imbecis o desmotivam porque é "burguês"? E se fosse? Era melhor que o miúdo traficasse droga ou roubasse? Isso já não é "burguês"? E o que tem de "burguês" um desporto que se joga com uma raqueta que pode custar meia dúzia de patacos? E já agora o que é ser "burguês" no séc. XXI? Não faz o Lula vida de "burguês"? É de facto uma designação... degradante. Vamos às políticas do Lula e do PT. É simpático da tua parte considerá-las de esquerda, tendo em conta o processo de abertura às economias e capitais estrangeiros que o Governo do PT empreeendeu, dando seguimento ao começado no Governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC). De facto Lula, e os seus detractores de "esquerda" confirmam, continuou as políticas de FHC em 3 sectores que impediam a descolagem da economia Brasileira (muito potente internamente, mas localizada no espetro social, e virtualmente inexistente no contexto externo): combate à corrupção (+ combate à economia paralela), capitalização da economia (carente de fundos, como de resto a nossa) e formação de quadros. Se estiveres mais atento à realidade brasileira verificarás (e agora até se torna bastante fácil com a pré-campanha presidencial) que os grande ataques ao "método Lula" vêm dos partidos de esquerda, alguns formados por ex-camaradas de Lula, que o acusam de traição. Outro exemplo simples e contemporâneo é o do negócio Vivo/PT/OI, onde Lula permitiu que num sector estratégico como as telecomunicações se entregasse a decisão a empresas estrangeiras. Se o maior operador móvel (VIVO) já estava, e continua, em mãos exteriores, o maior operador fixo e de cabo (OI) fica agora exposto ao acordo entre um accionista de referência estrangeiro (PT) e dois empresários independentes brasileiros, podendo afastar do centro das decisões o parceiro Institucional do Estado, o Banco Estatal de Fomento - BNDES. Parece-me neste caso um Lula bem mais fiel às leis do mercado, mais capitalista, liberal ou "direitista", se quiseres, do que Sócrates (visto por certa esquerda como um "infiltrado" das forças de direita). Também o facto de Lula, que durante tantos anos praguejou Davos, do alto do palanque de Belém/Portalegre, ter imediatemente abandonado os altermundialistas à sua sorte ao primeiro chamamento dos outrora por si insultados capitalistas da Globalização parece dar razão aos que o acusam de traição. Lula foi de facto mais longe que FHC no que diz respeito ao apoio à pobreza extrema, em programas do género do que chamamos aqui "Rendimento Social de Inserção". Sendo contra este último no nosso País, admito que face à conjuntura radicalmente mais grave e lacta do Brasil que tal o justifique. Mas é preciso não esquecer o trabalho que as Perfeituras e Governos Estaduais fazem nesse aspecto. O programa de limpeza de fazelas que está a ser feito no Rio, hoje com quase uma dezena de gigantescos Bairos de lata/Estados (que de facto o são, ou eram) livres do controlo dos traficantes, permitindo a que os jovens se dediquem aos estudos ou desporto invês de serem obrigados a traficar ou roubar, quebrando assim o ciclo da pobreza, é de importância... capital. Além de hercúleo, parece-me um trabalho tão ou mais importante do que o "Fome Zero" ou "Cestas Básicas". Por fim não posso deixar passar o «não rouba». Eu não sei se o Lula rouba, mas sei que o seu governo foi o protagonista do maior escândalo de corrupção da Democracia Brasileira - o Mensalão, superando o caso que valeu a distituição de Fernando Collor de Mello em inícios dos anos 1990. Enquanto neste último a família Collor "apenas" tinhas uma série de despesas pagas indevidamente por parte de empresas fantasma encabeçadas pelo então célebre Paulo César Farias, o que só por si constituiu um caso gravíssimo, com a já referida destituição, no caso do Mensalão tratava-se de uma enormíssima rede que utilizava dinheiro de empresas públicas para pagar a agentes do Estado, nomeadamente deputados, chorudas "mesadas" (daí Mensalão) para que fossem aprovadas medidas do seu interesse. Há 40 réus que, julgo, ainda esperam julgamento final. Podes falar que a corrupção aqui foi mais... democrática: em vez de roubar um roubavam muitos! Lula defendeu-se dizendo que nada sabia. Pior... tinha em alguns dos seus mais directos colaboradores virtuosos mafiosos e não se apercebeu. Neste caso, Luís, não há três opções. Só duas: ou o teu «ex-operário com ideias de esquerda» é um grande corrupto, ou é tão incapaz de governar que se pode fazer o que se quiser nas suas (lendárias) barbas. Corrupto ou burro? Escolhe...

TF

Sem comentários:

Enviar um comentário