quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Psicologia e Catástrofes Naturais

Quando um território do tamanho da Itália se encontra submerso;
Quando 20 milhões de pessoas perderam o pouco que possuíam;
Quando quase 1400 pessoas imediatamente faleceram com a força da Natureza das cheias;
Quando 3,5 milhões de crianças se encontram em risco de contrair doenças mortais propagadas por águas insalubres;
... será que se justifica manter preconceitos e restringir as doações financeiras à situação de calamidade no Paquistão?


A verdade é que o ritmo de ajuda humanitária a chegar ao Paquistão é não só muito mais lento como menor em quantidade do que, por exemplo, a vaga de apoio em resposta ao sismo no Haïti. Será admissível que em questões de catástrofes humanitárias as considerações políticas e religiosas figurem mais alto que a compaixão pelos nossos irmãos e irmãs que sofrem com as cheias mais graves do século?
Pergunto-me também o que é que facilitou enviar o nosso contributo para o Haïti – o que é que o Haïti tem e o que que falta em termos de “kudos” de empatia aos Paquistaneses. Mas é preciso dar a volta à questão: o que é que existe na imagem do Paquistão que dificulta a compaixão do exterior? Alguns pontos prendem-se com o terrorismo, talibãs (o vale Swat e a impunidade fundamentalista é conhecida pela opinião pública internacional), corrupção e o programa de misseis nucleares. O cidadão ocidental não acredita que os seus euros e dolares chegarão ao destino e considera que um Estado que investe fortemente na sua capacidade nuclear deveria redireccionar esse financiamento para ajudar as vítimas das cheias.
Mas acho que ainda há um outro factor: a progressiva perda de sensibilidade para o sofrimento alheio e o sentimento de que os parcos euros que mandamos em ‘cheque branco’ não ajuda em nada as verdadeiras vítimas de catástrofes naturais.
Quando vemos o desastre organizacional no Haïti e a incapacidade desse governo em recontruir o seu país é mais do que natural se questionar da validade do destino do nosso apoio. É esta a problemática da transferência de apoio humanitário para localizações pouco democráticas ou em estados fragmentados e fragilizados. Em democracia estamos habituados a que o ‘fio vermelho’ de todas as nossas acções e transferências se encontre contabilizado; é a legitimidade das instituições em causa. O ponto até que esta legitimidade é exportável para regimes pouco democráticos é altamente questionável.
Entretanto, como é que a nossa consciência humanitária pode dormir descansada enquanto a fúria das águas destrói o Paquistão? E há um perigo pior que as cheias. Tal como as doenças proliferam em ambientes de cheias e nos campos dos desalojados, o Paquistão encontra-se a cada dia que passa em perigo crescente de cair definitivamente para o fundamentalismo, com a bênção da apatia ocidental, pois os apoios dos fundamentalistas islâmicos não têm abrandado.
Deixo aqui o site da Cruz/Crescente Vermelha/o onde poderá dar o seu contributo para as vítimas das cheias no Paquistão.

RB

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Lula, o da Silva, Esquerda, Direita... roubar!



A propósito deste vídeo, o qual classifiquei de degradante no Facebook, recebi um "ataque" de um grande amigo e primo, que me acusou de ser incapaz de reconhecer que «um "ex-operário com ideias de esquerda" pudesse operar uma revolução nas condições de vida de boa parte dos brasileiros», citando o The Economist. Além disso o meu primo alega que no vídeo apenas se constata que Lula é um político, mas que ao contrário dos outros não rouba. Respondi desta forma:

Mas que grande confusão vai na tua cabeça. Em 1º lugar não me custa nada que a política de esquerda, ou que a de direita, resulte. É de resto com grande satisfação que o constato quando tal acontece. Como vejo o espectro e nomenclatura pol...ítico-ideológica de uma forma distinta do vulgar «o meu clube é melhor que o teu» é sempre com agrado que registo quando as populações, os cidadãos, ou na sua concretização enquanto espaço de identificação comum, o Estado, seja ele qual for, consegue tirar dividendos de um qualquer projecto económico-social, utilizando como instrumento para tal uma determinada matriz política. Posto isto verifico alguma surpresa da tua parte por uma (alegada) metodologia de "esquerda" resultar. Não te sabia tão céptico. Na verdade as correntes ideológicas e filosóficas de esquerda foram, e são, fundamentais não só no necessário equilibrio da balança politica, partidária e institucional, como consagram importantes avanços nos direitos dos camponeses (1ª), mulheres (2ª), operários (3ª) e crianças (4ª) ou mesmo na autodeterminação dos povos. E naturalmente que não estou a falar das conquistas da segunda metade do séc. XX, mas sim dos avanços que a Inglaterra inspirou desde o séc. XVI até ao final do séc. XIX, como o Settlement Act, o Korn Laws e outra emendas constitucionais. Falar da Social-Democracia Alemã da 1ª metade do séc. XIX seria fastidioso, mas certamente concordarás que resultou num manual de pensamento e prática de maior abrangência democrática, proporcionando direitos às classes menos favorecidas, e culminando (por lógica evolutiva) num aumento da saúde económico-social dos países do centro da Europa. E como vês estou a evitar os clássicos Hegel, Rosseau, Marx ou Sartre, a quem dispenso citar o contributo na evolução ideológica (deveria dizer psicológica? mental? civilizacional?) do indivíduo e da sociedade. Voltando ao vídeo, e admitindo que o Lula tem essas virtudes todas que apontas (já lá vamos): isso invalida que seja degradante? e acrescento mais: demagógico! e ainda: desviante! Então um puto da favela gosta de jogar ténis e dois imbecis o desmotivam porque é "burguês"? E se fosse? Era melhor que o miúdo traficasse droga ou roubasse? Isso já não é "burguês"? E o que tem de "burguês" um desporto que se joga com uma raqueta que pode custar meia dúzia de patacos? E já agora o que é ser "burguês" no séc. XXI? Não faz o Lula vida de "burguês"? É de facto uma designação... degradante. Vamos às políticas do Lula e do PT. É simpático da tua parte considerá-las de esquerda, tendo em conta o processo de abertura às economias e capitais estrangeiros que o Governo do PT empreeendeu, dando seguimento ao começado no Governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC). De facto Lula, e os seus detractores de "esquerda" confirmam, continuou as políticas de FHC em 3 sectores que impediam a descolagem da economia Brasileira (muito potente internamente, mas localizada no espetro social, e virtualmente inexistente no contexto externo): combate à corrupção (+ combate à economia paralela), capitalização da economia (carente de fundos, como de resto a nossa) e formação de quadros. Se estiveres mais atento à realidade brasileira verificarás (e agora até se torna bastante fácil com a pré-campanha presidencial) que os grande ataques ao "método Lula" vêm dos partidos de esquerda, alguns formados por ex-camaradas de Lula, que o acusam de traição. Outro exemplo simples e contemporâneo é o do negócio Vivo/PT/OI, onde Lula permitiu que num sector estratégico como as telecomunicações se entregasse a decisão a empresas estrangeiras. Se o maior operador móvel (VIVO) já estava, e continua, em mãos exteriores, o maior operador fixo e de cabo (OI) fica agora exposto ao acordo entre um accionista de referência estrangeiro (PT) e dois empresários independentes brasileiros, podendo afastar do centro das decisões o parceiro Institucional do Estado, o Banco Estatal de Fomento - BNDES. Parece-me neste caso um Lula bem mais fiel às leis do mercado, mais capitalista, liberal ou "direitista", se quiseres, do que Sócrates (visto por certa esquerda como um "infiltrado" das forças de direita). Também o facto de Lula, que durante tantos anos praguejou Davos, do alto do palanque de Belém/Portalegre, ter imediatemente abandonado os altermundialistas à sua sorte ao primeiro chamamento dos outrora por si insultados capitalistas da Globalização parece dar razão aos que o acusam de traição. Lula foi de facto mais longe que FHC no que diz respeito ao apoio à pobreza extrema, em programas do género do que chamamos aqui "Rendimento Social de Inserção". Sendo contra este último no nosso País, admito que face à conjuntura radicalmente mais grave e lacta do Brasil que tal o justifique. Mas é preciso não esquecer o trabalho que as Perfeituras e Governos Estaduais fazem nesse aspecto. O programa de limpeza de fazelas que está a ser feito no Rio, hoje com quase uma dezena de gigantescos Bairos de lata/Estados (que de facto o são, ou eram) livres do controlo dos traficantes, permitindo a que os jovens se dediquem aos estudos ou desporto invês de serem obrigados a traficar ou roubar, quebrando assim o ciclo da pobreza, é de importância... capital. Além de hercúleo, parece-me um trabalho tão ou mais importante do que o "Fome Zero" ou "Cestas Básicas". Por fim não posso deixar passar o «não rouba». Eu não sei se o Lula rouba, mas sei que o seu governo foi o protagonista do maior escândalo de corrupção da Democracia Brasileira - o Mensalão, superando o caso que valeu a distituição de Fernando Collor de Mello em inícios dos anos 1990. Enquanto neste último a família Collor "apenas" tinhas uma série de despesas pagas indevidamente por parte de empresas fantasma encabeçadas pelo então célebre Paulo César Farias, o que só por si constituiu um caso gravíssimo, com a já referida destituição, no caso do Mensalão tratava-se de uma enormíssima rede que utilizava dinheiro de empresas públicas para pagar a agentes do Estado, nomeadamente deputados, chorudas "mesadas" (daí Mensalão) para que fossem aprovadas medidas do seu interesse. Há 40 réus que, julgo, ainda esperam julgamento final. Podes falar que a corrupção aqui foi mais... democrática: em vez de roubar um roubavam muitos! Lula defendeu-se dizendo que nada sabia. Pior... tinha em alguns dos seus mais directos colaboradores virtuosos mafiosos e não se apercebeu. Neste caso, Luís, não há três opções. Só duas: ou o teu «ex-operário com ideias de esquerda» é um grande corrupto, ou é tão incapaz de governar que se pode fazer o que se quiser nas suas (lendárias) barbas. Corrupto ou burro? Escolhe...

TF

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Agarrem-me!!!!






Numa altura em que, quatro anos de doença e uma abdicação do cargo de Presidente depois, Fidel regressa com nova postura de estadista ( a propósito, em que qualidade discursou esta semana na Assembleia Nacional?), a sua caricatura acrescenta mais uns rabiscos ao já de si pobre desenho: Colômbia e Venezuela reataram relações depois do encontro presidencial com o recém empossado Juan Manuel Calderón. Cai assim por terra o corte diplomático e ameaça de Guerra declarado há coisa de um mês por Chavez (para os mais distraídos é dele que falo) com Maradona ao lado (já imaginaram Bush declarar guerra ao Iraque com Pelé a ladeá-lo?), acusando o cessante Álvaro Uribe das mais viltres manigâncias. De facto, ameaçar um País com um conflito sangrento, ainda mais o seu mais importante vizinho(mais que o Brasil) de quem se depende há décadas culturalmente e , em parte, economicamente semanas antes do seu Chefe de Estado e de Governo deixar o cargo, deixa a ideia daqueles corajosos que ao verem um inimigo dizer adeus num navio que se afasta do cais gritam «agarrem-me senão bato-lhe...Agarrem-me!».
É por outro lado um acordo demasiado rápido, porque conseguido com um ex-membro do Executivo de Uribe, ainda mais tendo ocupado a pasta da Defesa Nacional, sendo improvável uma mudança substancial no que diz respeito às exigências da parte Colombiana para que Caracas deixe de ser complacente (sendo simpático) para com as FARC, ELN e outros movimentos que utilizem a ideologia como pretexto para traficar.
Fidel não disse, mas poderia ter dito:« Todo el Hombre tiene su Sierra Maestra». A de Chavez é, infelizmente, bem baixinha.


TF

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Ginseng e Libido

Para não induzir ninguém em erro, quero deixar claro que a Coreia do Norte é um regime brutal, repressivo, dona de diversos campos de concentração no seu território. É um exemplo vivo de desrespeito total pelos direitos humanos dos seus cidadãos, que (sobre)vivem num estado de absoluta miséria. Mas por vezes emite notícias tão rocambolescas que criam uma aura de surrealismo político que sobressai neste nosso mundo (possivelmente) pós-ideológico.

Hoje temos mais um caso desses.

De acordo com o FT, Pyongyang comprometeu-se a liquidar parte da sua dívida para com a República Checa através de um grande lote de ginseng em vez de dinheiro (sim, leram bem), pois os excessos totalitários da DPRK levaram o regime à quase bancarrota.

Oficiais checos confirmaram que Pyongyang se tinha oferecido para resolver 5% da sua dívida acumulada de Kc186m (10 milhões US$) em ginseng, uma raiz revigorante utilizada em suplementos dietéticos e chás que supostamente melhora a memória, o vigor e a libido. Recordemo-nos que a antiga Checoslováquia era um dos principais fornecedores de máquinas pesadas, camiões e obrigações da Coreia do Norte. No entanto, os checos entretanto convertidos ao capitalismo, não estão convencidos de que precisam de tamanha injecção de "robustez" gingseniana. "Estamos a tentar convencê-los a nos enviar uma transferência de zinco, que é extraído lá", disse Tomas Zidek, vice-ministro das Finanças da República Checa.

Este tipo de transacção não seria inédito entre países socialistas - Hugo Chavez dá um desconto a Cuba no petróleo, por enviar médicos cubanos para trabalhar nas zonas mais carenciadas da Venezuela. Se a moda pegar, será que ainda vamos assistir à chegada de um navio-cargueiro cheio de pau-de-cabinda de Angola para Portugal?

RB

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Why is he, in fact, so sad?

Não se arranja uma sucedânea da Marilyn Monroe bem gorduchinha para isso?

FS

Why is Mr President so sad?


Em seguimento ao post do Filipe, tinha que partilhar esta imagem deprimente de Barack Obama a festejar os seus anos na semana passada. Como diz no Frisky, alguém que lhe cante "Happy birthday Mr President"!


RB

domingo, 8 de agosto de 2010

Digressões na Corda Bamba

Certa vez, confessei a um dos meus amigos Pandorianos (o Tiago) que, para mim, o John McCain é que era. E confissão era de facto - quase como quem relata um pecado, esperando pela expiação. Sabemos o quanto pode ser difícil marchar contra o mainstream, em termos de opinião, seja indoors ou outdoors. (Uma das formas de parecer informado e inteligente consiste em usar palavras e expressões nessa língua franca que é o inglês - espero que gostem.) De qualquer modo, vem isto a propósito de duas leituras, em certo grau antagónicas, do primeiro ano e meio de governação de Barack Obama. (Gosto da palavra antagónico - estava mesmo à espera de uma oportunidade para usá-la; tal como gosto, imensamente gosto em boa verdade, de expressões como "em certo grau", "de certa forma", "até certo ponto". Que grau? Que forma? Que ponto? Não se sabe - e não é suposto saber-se.)
Onde ia eu? Ah, Obama e tal. Bem, está o actual Presidente dos EUA na mais baixa maré, em termos de popularidade, desde que iniciou funções. Eu desconfio, desconfio cada vez mais de modo visceral, de homens providenciais, que valem por um discurso, por uma imagem. Fazem-me sempre lembrar o carismático profeta que inicia uma seita e acaba linchado pela turba. Mas divago e exagero, com certeza.
A verdade é que Obama não tem conseguido debelar a crise económica e social que assole os EUA, apesar de nunca descurar a sua imagem pública - que é, afinal, o seu ponto forte. Conseguiu, todavia, à tangente, aprovar uma reforma de saúde - mais social, cujo desiderato é o de assegurar o acesso a cuidados de saúde por uma larga faixa de população americana - que não dispunha desse acesso. Muito recentemente também, uma campanha, cujo rosto é a Primeira Dama, tem vindo vindo a defender medidas públicas contra a obesidade, neste caso obesidade infantil. O propósito parecerá louvável e muito higiénico. No entanto, tem dado livre curso a - ou aumentado o caudal de - opiniões, algumas de especialistas, que referem a obesidade como uma «epidemia». A palavra insinua-se bem - mas é tudo menos inócua.
Com efeito, parece-me que o corolário de uma saúde mais estatizada, mais social, será sempre esta imposição de certos hábitos que se querem muito saudáveis. A ingerência nas escolhas e na liberdade pessoais é, porém, flagrante. E a questão torna-se ainda mais discutível quando, com o patrocínio do Estado - na Europa Ocidental; nos EUA -, de repente há uma porção da sociedade civil (por ser gorda, por ser fumadora, por ser... - onde acabaremos nós?) da qual, inevitavelmente, se dá uma imagem de decadência e de comportamento socialmente reprovável.
A esse respeito, não resisto a transcrever sapientíssimas e galhardas palavras de Miguel Esteves Cardoso:

"Ser-se gordo, hoje em dia, é um acto de resistência, um grito de liberdade.
Toda a cultura vigente, higieno-fascista e cobarde, diz-nos para ter cuidado com isto e aquilo; para não abusar; para nos submetermos às ditaduras das análises do colesterol e do diabo a sete. Querem que vivamos acocorados, tremendo de medo dos malefícios de tudo o que nos sabe bem há séculos a fio, negando a nós próprios qualquer prazer que não esteja regimentado, planeado e aprovado pelos mandarins da saúde pública. Querem que subsistamos como escravos e, caso persistamos em perseguir o que é reconhecidamente bom e agradável, que nos sintamos culpados e indecentemente arrependidos.
Pois não há-de ser assim que nos convencem. O pão com manteiga e o gin-tónico; as simples batatas fritas; a gordurinha estaladiça das costeletas de borrego... todas estas coisas nem sequer piscam quando as autoridades as proíbem e denigrem." (Miguel Esteves Cardoso - A Minha Andorinha, Assírio e Alvim).

FS

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

1ª experiência multimédia: aceitam-se doações de câmeras de filmar!


Este é um pequeno excerto de uma conversa sobre o multiculturalismo da Caixa de Pandora. A vida é composta por 1as experiências, e vamos procurar ser aprendizes do MovieMaker!

Màrio Bettencourt Resendes, a Ilha e Macau




Mário Bettencourt Resendes morreu. Além de eterno director do DN era também um consagrado e escutado opinador da República. Nunca escondeu o seu perfil ideológico, nem o partido com o qual mais se identificava. Talvez pelo tempo que passou com Soares em Paris, talvez devido às lutas académicas, talvez devido ao já centenário espirito Republicano de índole social democrata dos intelectuais Açorianos. Conseguia contudo destinguir a ideologia das ideias. Era um moderado, procurando ser uma voz independente, ainda mais reforçado pelo facto de não encapotar a sua matriz ideológica. Gostava de o ouvir e ler, pois sabia que ele sempre procuraria a razoabilidade em vez do frete, a análise concreta em vez da defesa do indefensável. Nos dois últimos anos da sua doença, quando fisicamente se encontrava debelitado a "olho nu", terá perdido alguma dessa independência, tornando-se mais acintoso e quiçá mais partidário. A sua insularidade estava nos genes, e nunca o escondeu. Foi particularmente duro com Cavaco quando este se opôs ao Estatuto Politico-Administrativo dos Açores, posteriormente confirmado pelo Tribunal Constitucional. Era portanto um autonomista. Tanto que , tal como inserto no vetado Estatuto, considerava que o Parlamento Açoriano deveria depender menos da Presidência da República do que a AR. Curiosamente este é o mesmo homem que, segundo confessou publicamente, teve como um dos desgostos da sua vida o facto de não ter sido nomeado Governador de Macau. A sua proximidade com Soares ter-lhe-ia porventura podido proporcionar tal desiderato. Talvez fosse demasiado jovem para o fazer em 1991 quando Rocha Vieira (curiosamente um ex- Ministro da República dos Açores) foi indigitado último Governador do território Chinês sob administração portuguesa. Talvez quisesse que Soares o colocasse no cargo aqundo da sua saida da Presidência. Quem sabe? O interessante é como um vigoroso ilhéu e autonomista tinha como sonho de vida ser o símbolo do último baluarte do império. Um autonomista imperialista?Um contra-senso? Como defender algo e por um lado sonhar com o simbolo oposto? Não, não é crítica, nem simpático seria fazê-lo tão poucos dias após a sua morte. É até compreensivel, e nem será caso virgem. No fundo são as dinâmicas do poder, que movem os homens , as sociedades. Pode um autonomista tornar-se Imperialista? Pode. E um imperialista tornar-se autonomista? Também. E pode ser as duas coisas ao mesmo tempo? Sem dúvida. O importante é, como fez Bettencourt Resendes, dizê-lo claramente.
TF

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Esquizofrenias

Hoje acordei para uma notícia do ministro europeu francês, Pierre Lellouche, a criticar o tratamento da Roménia face às suas comunidades ciganas. Sugeriu ainda ao governo romeno que criasse um cargo ministerial dedicado à questão da minoria cigana.
Pois, dá jeito ter um interlocutor na Roménia quando a França planeia destruir 300 acampamentos ciganos e deportar os seus habitantes para a Roménia. Será que até os elementos da comunidade 'Roma' nascidos já em território francês vão ser alvos desta deportação? Note-se que esta medida abrangerá cerca de 50% do total dos acampamentos ciganos em França.
Preocupa-me esta impunidade total face a diversas manifestações de intolerância que se vive na Europa. Cheira-me a odores de épocas passadas.

RB