quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Portugal, ein Schrecken ohne Ende

Apesar de não me considerar beata (aliás, será que o habitat natural do termo 'beato' se circunscreve ao catolicismo mediterrânico?) aprecio muito os escritos de João César das Neves. Hoje ele publicou um interessante post relativo às medidas de austeridade anunciadas ontem por José Sócrates. Defende a entrada do FMI na gestão pública de Portugal enquanto "bomba atómica" que sanearia o sistema putrefacto dos dinheiros públicos.
De facto não podemos ficar pelos cortes e pelas costuras orçamentais; temos que ir além. Além da subida de IVA. Além dos cortes no abono familiar. Além das subidas nas contribuições à ADSE e CGA. Porque estas medidas só têm por objectivo sobreviver o dia de amanhã em termos da maquinaria estatal. Mas nós temos que projectar-nos no futuro e a longo-prazo, estratégia para o qual é inevitável o efeito 'tabula rasa' no sistema sócio-económico-político português.
Em alemão existe uma expressão que sigo à letra: lieber ein Ende mit Schrecken, als ein Schrecken ohne Ende (trad: é melhor um fim terrível do que um terror sem fim). Temos que acabar com todas as benesses que a função pública tem acumulado ao longo das décadas que mais não fazem que cimentar estruturas imóveis, pesadas e lentas. É preciso morder o cabedal, olhar em frente e seguir com um modelo de reestruturação da coisa pública.
Falo de subsídios, por exemplo, que, pela sua natureza não são tributáveis. Qual é a lógica de pagar subsídios de imagem a assessores e afins? E os subsídios de representação quando o funcionário não se ausenta do serviço?
Mas não é só nos funcionários públicos que temos que analisar a fundo os gastos. Só se pode pedir a um povo que arregace as mangas e aperte os cordões da bolsa se os exemplos de cima são espelhados nessas medidas de austeridade. Certamente que casos como a sra deputada Inês de Medeiros nada fazem para credibilizar a gestão de fundos públicos nas nossas instituições.
Temos que ter políticos com a coragem da candidata dos Verdes nas Presidenciais Brasileiras, Marina Silva, por exemplo, que quando foi eleita vereadora de Rio Branco devolveu o dinheiro de gratificações, auxílio-moradia e outras mordomias que os demais vereadores recebiam sem questionamento.
Temos que enfrentar esta crise como a oportunidade para finalmente criar um sistema político e estatal do qual os portugueses se podem orgulhar. Quando exclamaremos "Portugal est mort. Vive le Portugal!"?

RB

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