Quando um território do tamanho da Itália se encontra submerso;
Quando 20 milhões de pessoas perderam o pouco que possuíam;
Quando quase 1400 pessoas imediatamente faleceram com a força da Natureza das cheias;
Quando 3,5 milhões de crianças se encontram em risco de contrair doenças mortais propagadas por águas insalubres;
... será que se justifica manter preconceitos e restringir as doações financeiras à situação de calamidade no Paquistão?
Quando quase 1400 pessoas imediatamente faleceram com a força da Natureza das cheias;
Quando 3,5 milhões de crianças se encontram em risco de contrair doenças mortais propagadas por águas insalubres;
... será que se justifica manter preconceitos e restringir as doações financeiras à situação de calamidade no Paquistão?
A verdade é que o ritmo de ajuda humanitária a chegar ao Paquistão é não só muito mais lento como menor em quantidade do que, por exemplo, a vaga de apoio em resposta ao sismo no Haïti. Será admissível que em questões de catástrofes humanitárias as considerações políticas e religiosas figurem mais alto que a compaixão pelos nossos irmãos e irmãs que sofrem com as cheias mais graves do século?
Pergunto-me também o que é que facilitou enviar o nosso contributo para o Haïti – o que é que o Haïti tem e o que que falta em termos de “kudos” de empatia aos Paquistaneses. Mas é preciso dar a volta à questão: o que é que existe na imagem do Paquistão que dificulta a compaixão do exterior? Alguns pontos prendem-se com o terrorismo, talibãs (o vale Swat e a impunidade fundamentalista é conhecida pela opinião pública internacional), corrupção e o programa de misseis nucleares. O cidadão ocidental não acredita que os seus euros e dolares chegarão ao destino e considera que um Estado que investe fortemente na sua capacidade nuclear deveria redireccionar esse financiamento para ajudar as vítimas das cheias.
Mas acho que ainda há um outro factor: a progressiva perda de sensibilidade para o sofrimento alheio e o sentimento de que os parcos euros que mandamos em ‘cheque branco’ não ajuda em nada as verdadeiras vítimas de catástrofes naturais.
Quando vemos o desastre organizacional no Haïti e a incapacidade desse governo em recontruir o seu país é mais do que natural se questionar da validade do destino do nosso apoio. É esta a problemática da transferência de apoio humanitário para localizações pouco democráticas ou em estados fragmentados e fragilizados. Em democracia estamos habituados a que o ‘fio vermelho’ de todas as nossas acções e transferências se encontre contabilizado; é a legitimidade das instituições em causa. O ponto até que esta legitimidade é exportável para regimes pouco democráticos é altamente questionável.
Entretanto, como é que a nossa consciência humanitária pode dormir descansada enquanto a fúria das águas destrói o Paquistão? E há um perigo pior que as cheias. Tal como as doenças proliferam em ambientes de cheias e nos campos dos desalojados, o Paquistão encontra-se a cada dia que passa em perigo crescente de cair definitivamente para o fundamentalismo, com a bênção da apatia ocidental, pois os apoios dos fundamentalistas islâmicos não têm abrandado.
Deixo aqui o site da Cruz/Crescente Vermelha/o onde poderá dar o seu contributo para as vítimas das cheias no Paquistão.
RB
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