Dispersão é o signo do nosso tempo (Egocentrismo é o outro signo, mas essas são outras contas de um outro rosário.)
Afinal, as opções abriram-se, como nunca na História. E a escolha cumpre, urge e persegue-nos – em tudo. As ansiedades, patológicas ou não, que nos assolam, têm por esteio axial a angústia em arrostar uma escolha entre duas, três, muitas opções – nas relações interpessoais, nas coisas materiais.
Porque já não há costumes e já não há normas sociais. (Claro que há; não posso porém estar, em constante instância, a inserir variáveis no discurso; esquematizemos a realidade para que possamos falar dela.) As nossas opções não são as dos nossos avoengos. Dispersamo-nos hoje entre amigos, virtuais sobretudo, e reais; entre sentimentos e paixões e amores; entre escolhas de opções profissionais e educacionais; entre múltiplas formas de ocupar o tempo em que estamos mortos – e muitos vêem-se deambular, como eu, entre sites, blogues, vídeos do youtube, e por aí adiante.
O mundo abriu-se e nós devolvemos medo, dormência, tédio, insónia, adiamento, dispersão. Na senda pois de mantermos opções em aberto, nada escolhemos e tudo coleccionamos – experiências; avanços; retrocessos; impasses; limites; ideologias; palavras – como troféus enrodilhados num fio de memória que apresentaremos, orgulhosos, aos nossos semelhantes. E assim fazemos para calar o silêncio incómodo que não suportamos e para escapar do verdadeiro afinco em tomar um trilho decidido – onde não cheguem os estilhaços de surdas explosões de som, de informação e de imagem ou, chegando, não nos façam divergir.
De modo que nada nos define. Não somos crentes nem descrentes. Não somos simples nem complexos. Não sabemos algo nem o seu contrário. Não fazemos isto sem fazer aqueloutro.
Arcamos com uma opressão que muitos não sentem; além disso, sobre nós paira a impostura de sermos o tempo da transição – ou de inaugurarmos o tempo da constante transição – e, sobretudo, de termos de explicá-lo (a este tempo) aos vindouros; de o explicar e de justificar as nossas irresoluções. Quem compreende? Quem compreenderá?
FS
Afinal, as opções abriram-se, como nunca na História. E a escolha cumpre, urge e persegue-nos – em tudo. As ansiedades, patológicas ou não, que nos assolam, têm por esteio axial a angústia em arrostar uma escolha entre duas, três, muitas opções – nas relações interpessoais, nas coisas materiais.
Porque já não há costumes e já não há normas sociais. (Claro que há; não posso porém estar, em constante instância, a inserir variáveis no discurso; esquematizemos a realidade para que possamos falar dela.) As nossas opções não são as dos nossos avoengos. Dispersamo-nos hoje entre amigos, virtuais sobretudo, e reais; entre sentimentos e paixões e amores; entre escolhas de opções profissionais e educacionais; entre múltiplas formas de ocupar o tempo em que estamos mortos – e muitos vêem-se deambular, como eu, entre sites, blogues, vídeos do youtube, e por aí adiante.
O mundo abriu-se e nós devolvemos medo, dormência, tédio, insónia, adiamento, dispersão. Na senda pois de mantermos opções em aberto, nada escolhemos e tudo coleccionamos – experiências; avanços; retrocessos; impasses; limites; ideologias; palavras – como troféus enrodilhados num fio de memória que apresentaremos, orgulhosos, aos nossos semelhantes. E assim fazemos para calar o silêncio incómodo que não suportamos e para escapar do verdadeiro afinco em tomar um trilho decidido – onde não cheguem os estilhaços de surdas explosões de som, de informação e de imagem ou, chegando, não nos façam divergir.
De modo que nada nos define. Não somos crentes nem descrentes. Não somos simples nem complexos. Não sabemos algo nem o seu contrário. Não fazemos isto sem fazer aqueloutro.
Arcamos com uma opressão que muitos não sentem; além disso, sobre nós paira a impostura de sermos o tempo da transição – ou de inaugurarmos o tempo da constante transição – e, sobretudo, de termos de explicá-lo (a este tempo) aos vindouros; de o explicar e de justificar as nossas irresoluções. Quem compreende? Quem compreenderá?
FS
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