Há 2 anos atrás preparava-me para umas férias em Itália. Conheceria nessa altura a "Cidade Eterna," Roma, a então "Cidade do Lixo", Nápoles (sempre é´melhor que o epíteto "Cidade Camorra") e ainda a fantástica «Scavi» de Pompeia. Confesso que a visão do Vesúvio me trouxe lembranças da minha amiga de infância Maga Patalógica. Além disso a minha relação com as Piz(z)as, nomeadamente as feitas na Madeira ficou profundamente alterada. Piz(z)as é como se faz em Itália e não se fala mais nisso. Contudo o que mais me fascinou foi a profunda cisão na sociedade Romana, e Italiana em geral, entre azuis e vermelhos. Ali não há meias tintas, ou se é bem à direita ou bem à esquerda. O Centrão, esse objecto híbrido, estranho e de valências várias ,de que nós somos especialistas, parece ser residual no País de Victor Emanuel. Há zonas na cidade claramente dos azuis, outras dos vermelhos. Quando precisei de ir à Esposizione Universali di Roma(EUR), bairro construido para albergar uma mostra do Império de Mussolini em 1942 (assim ao jeito da Exposição do Mundo Português), questionei algumas pessoas na rua acerca da sua localização. Percebia de imediato quem era "azul" e quem era "vermelho". Os primeiros diziam-no por extenso, e com a boca cheia de orgulho. Os segundos limitavam-se à sigla, já de si alterada do original "E42", com um olhar desconfiado ao estilo « mas que raio vai este tipo fazer àquela zona proibida?». Mesmo no Desporto as coisas são bem claras. Cada uma das Grandes cidades tem um Clube Azul (Nápoles, Inter,Lázio,Bréscia, Juventus - esta apesar de não equipar com a dita cor) e uma Vermelha(Milan, Roma, Torino, Réggiana, Livorno). Símbolos maiores dessa "luta" serão os avançados Lucarelli, do Livorno, que comemora os Golos com o punho esquerdo fechado, e Paolo di Canio, ex-Lázio, que comemorou algumas vezes com o braço direito estendido da saudação Fascista. De resto este último chegou a ser suspenso por efectuar este gesto(meses depois de ter ganho prémio fair-play da FIFA por ter atirado para fora a bola quando, a centimetros da linha de golo, percebeu o guarda-redes adversário lesionado), o que nunca aconteceu ao seu adversário comunista. Por fim a política: sabe-se que a itália tem um nível médio de administração pública de excelência,o que permitiu que o País prosperasse nos anos 80 e 90, quando os governos duravam uma média de 4-6 meses. Além disso a economia é verdadeiramente privada, competitiva, com empresas de referência verdadeiramente capitalizadas, em sectores vitais nas sociedades modernas como os transportes e a energia. Num País em que Gianfranco Finni já é visto como um moderado percebe-se a dimensão da "coisa". Berlusconi, apesar da imagem boçal que sustenta, teve(tem) o mérito de ter estabilizado um modelo governativo que parecia destinado à instabilidade constante. E personifica o que metade dos italianos também glorifica: o sucesso pessoal e empresarial, e a clareza de posições. Estranho é que um indivíduo com o perfil do ex-Presidente da CE Romano Prodi tenha sido duas (!!!!) vezes 1ºMinistro, cada uma das quais por cerca de dois anos. É que Prodi, nas suas meias tintas e preocupação excessiva com o politicamente correcto, introduziu uma nova cor, efémera, na cultura Italiana: o cinzento!
TF
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