sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Màrio Bettencourt Resendes, a Ilha e Macau




Mário Bettencourt Resendes morreu. Além de eterno director do DN era também um consagrado e escutado opinador da República. Nunca escondeu o seu perfil ideológico, nem o partido com o qual mais se identificava. Talvez pelo tempo que passou com Soares em Paris, talvez devido às lutas académicas, talvez devido ao já centenário espirito Republicano de índole social democrata dos intelectuais Açorianos. Conseguia contudo destinguir a ideologia das ideias. Era um moderado, procurando ser uma voz independente, ainda mais reforçado pelo facto de não encapotar a sua matriz ideológica. Gostava de o ouvir e ler, pois sabia que ele sempre procuraria a razoabilidade em vez do frete, a análise concreta em vez da defesa do indefensável. Nos dois últimos anos da sua doença, quando fisicamente se encontrava debelitado a "olho nu", terá perdido alguma dessa independência, tornando-se mais acintoso e quiçá mais partidário. A sua insularidade estava nos genes, e nunca o escondeu. Foi particularmente duro com Cavaco quando este se opôs ao Estatuto Politico-Administrativo dos Açores, posteriormente confirmado pelo Tribunal Constitucional. Era portanto um autonomista. Tanto que , tal como inserto no vetado Estatuto, considerava que o Parlamento Açoriano deveria depender menos da Presidência da República do que a AR. Curiosamente este é o mesmo homem que, segundo confessou publicamente, teve como um dos desgostos da sua vida o facto de não ter sido nomeado Governador de Macau. A sua proximidade com Soares ter-lhe-ia porventura podido proporcionar tal desiderato. Talvez fosse demasiado jovem para o fazer em 1991 quando Rocha Vieira (curiosamente um ex- Ministro da República dos Açores) foi indigitado último Governador do território Chinês sob administração portuguesa. Talvez quisesse que Soares o colocasse no cargo aqundo da sua saida da Presidência. Quem sabe? O interessante é como um vigoroso ilhéu e autonomista tinha como sonho de vida ser o símbolo do último baluarte do império. Um autonomista imperialista?Um contra-senso? Como defender algo e por um lado sonhar com o simbolo oposto? Não, não é crítica, nem simpático seria fazê-lo tão poucos dias após a sua morte. É até compreensivel, e nem será caso virgem. No fundo são as dinâmicas do poder, que movem os homens , as sociedades. Pode um autonomista tornar-se Imperialista? Pode. E um imperialista tornar-se autonomista? Também. E pode ser as duas coisas ao mesmo tempo? Sem dúvida. O importante é, como fez Bettencourt Resendes, dizê-lo claramente.
TF

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